sábado, 23 de abril de 2011

Quando Kardec chorou...


Esta é uma das mais lindas histórias que eu já lí. Sempre que posso, faço referência a ela.

Me comovo sempre que leio esta passagem, imaginando a emoção que o senhor Allan Kardec teve ao receber um embrulho em sua casa, naquele dia em que ele se encontrava triste, abatido pelas perseguições dos inimigos e as ironias dos falsos amigos, pensando até em desistir da sua missão, mesmo após a codificação de o Livro dos Espíritos...

 

Era inverno e a noite caia rápida e fria
Aquele homem desesperado caminhava triste e só...

No peito, a dor da separação promovida pela morte da esposa querida, dilacerava-lhe as fibras mais sutis dos sentimentos...

A prova amarga do adeus vencera-lhe. E ele, que sonhava com a felicidade de um matrimônio feliz e com um futuro adornado pela presença dos filhos, não passava agora de trapo humano, solitário.

As noites de insônia e os dias de angústia minaram-lhe as forças.

Faltava ao trabalho e o chefe ríspido, ameaçava-lhe despedir.

A vida para ele não tinha mais sentido, para que teimar em ficar vivo? Pensava...

Sem confiança em Deus, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade... ele iria suicidar-se.

Paris, a cidade luz, estava envolta no manto escuro da noite, e um vento gelado açoitava sem piedade.

Seguiu, a passos lentos, pelas ruas desertas e se deteve um momento a contemplar o rio Sena...

Talvez a correnteza o levasse dali e silenciasse, em suas águas escuras e profundas, o seu pensamento aturdido... Sim, essa seria a solução, pensou.

Dirigiu-se como um autômato até a ponte Marie, quase apagada pela forte serração e, ao apoiar a mão direita na murada da ponte para atirar-se, sentiu que um objeto molhado caiu aos seus pés.
Surpreendido, distinguiu um livro que o orvalho umedecera...

Tomou o volume nas mãos e caminhou, um tanto irritado, procurando a luz quase apagada de um poste vizinho, e pode ler no frontispício do livro: "Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito." Vinha assinado por um homem.

Mesmo um pouco indeciso, resolveu ir para casa e ler aquela obra que, por suposto, havia salvado a vida de alguém que pretendera, como ele, por termo à própria vida.

Já nas primeiras páginas encontrou motivos para viver e lutar, suportar com resignação e coragem os reveses da vida e refazer a esperança. Então ele desitiu da idéia do suicídio.

Leu o volume com dedicada atenção e resolveu presenteá-lo a quem lhe havia propiciado aquele tesouro.

Era abril de 1860, e numa manhã fria como tantas outras na cidade de Paris, o professor Rival recebe em sua residência uma certa encomenda cuidadosamente embrulhada.

Abriu e encontrou uma carta singela com os seguintes dizeres: "Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da humanidade, pois tenho fortes razões para isso."
Em seguida o autor da carta narra a história que acabamos de contar.

Allan Kardec, pseudônimo do ilustre professor francês Hippolyte Leon Denizar Rival, abriu a obra e leu em seu frontispício: "Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito."
A. Laurent.
 E logo após esta primeira assinatura de A. Laurent, outra dedicatória dizia:
"Salvou-me a vida também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação"
Joseph Perrier.Kardec, aconchegando o livro ao peito, sentiu um bálsamo na alma a lhe renovar o ânimo, ele entendeu a sublime missão que lhe cabia como codificador da Doutrina Espírita, mensageira de consolo e esperança para a humanidade sofrida, e vislumbrando a paisagem da sua janela, uma lágrima rolou pelo seu rosto.

Essa obra que conseguiu, com suas páginas de luz, deter aqueles dois homens às portas do suicídio, veio à lume no dia 18 de abril de 1857, e é intitulada "O Livro dos Espíritos".

segunda-feira, 18 de abril de 2011

DESINTERESSE MORAL X PERSONALISMO

"Por desinteresse moral entendemos a abnegação, a humildade, a ausência de toda a pretensão orgulhosa, de todo o pensamento personalista postos a serviço do Espiritismo".( Allan Kardec- Livro Viagem Espírita em 1862).

 Personalismo é a conduta que determina o próprio indivíduo como ponto de referência de tudo, exaltando seu próprio ego, fazendo predominar os interesses pessoais sobre os interesses coletivos.

O termo personalismo vem do idioma Francês, personnalisme, "egoísmo"; e do idioma Inglês, personalism; ambos derivados do idioma Latim, persona, "máscara de teatro, personagem". E tem como sinônimos- Individualismo egocêntrico. 02. Eucentrismo intoxicante. 03. Subjetivismo destrutivo. 04. Interesseirismo.


João Batista afirmava: "É necessário que o Cristo cresça e que eu diminua". Este deve ser o nosso norte. A mensagem espírita, o ensinamento espírita é o que importa. Nós seremos sempre aquele instrumento carente de afinação nas mãos dos Espíritos. Caso contrário ficaremos sem o apoio espiritual devido, ficaremos então entregues à própria sorte, ao nosso ego, ao nosso personalismo; não só nas tarefas doutrinárias, mas também no nosso cotidiano.

Certo dia um espírito amigo se apresentou e conversando conosco afirmou:
"Para servir ao Cristo, meus irmãos, não é necessário sentar na cadeira da frente, procurar se enaltecer, aparecer; porque na maioria das vezes àquele que está sentado lá atrás tem mais pureza no coração e mais amor".


Mensagem breve e verdadeira.

É isto que fazemos na maioria das vezes, o ciúme, a inveja, as disputas dentro das Instituições são traços inegáveis do Personalismo doentio. Pessoas há que invejam o outro, porque ele procura estudar mais um pouco, se aprofundar mais; outros sentem ciume porque fulano tem mediunidade ostensiva... E há também àqueles que se acham muito importantes por serem oradores espíritas´e se enaltecem por isto.
Deveria ser justamente ao contrário, àqueles que necessitam desta tarefa tão dificil, de pregar o Evangelho de Jesus, precisam de luzes para sí mesmos, na maioria das vezes, possuem excelente oratória, mas apresentam inúmeros débitos e esta é sua derradeira chance, de não mais errar, de não mais trilhar nos descaminhos. São oportunidades concedidas. Somos instrumentos e assim precisamos nos comportar, cônscios de que nós é que precisamos desta chance, mas o Mundo Maior conta com inúmeras possibilidades além de nós.
Então para que o Personalismo?


Espíritas amai-vos e Instruí-vos, este foi o lema deixado por Kardec, mas amamos muito pouco, nos instruimos em uma ou outra área e nos exibimos sobremaneira. Este tipo de atitude não concerne com o verdadeiro espírita. Temos que estudar sempre, o estudo dilata nossa capacidade de compreender e amar melhor, mas não deveremos exibir nossos feitos com finalidade de projeção social, posto que são conquistas nossas, pessoais, para o crescimento do nosso espírito encarnado, não com a finalidade de nos sobrepor a este ou outro companheiro de jornada. Esta não é a finalidade da Doutrina Espírita. O objetivo do Espiritismo é essencialmente moral e não pessoal.

O Personalismo representa um verdadeiro entrave ao crescimento espíritual, e ele pode ser observado em alguns locais, quando um membro da Instituição, busca projetar o seu nome ou o nome daquele a quem admira em negrito, sublinhado ou em letras garrafais, exibindo-o à frente dos outros, em longas exposições sobre seus méritos pessoais, em exibições de seu currículo e feitos. Isto é muito comum em simpósios, seminários, encontros fraternos e mesmo dentro das Instituições. São as ervas daninhas que temos que combater. Todo este tipo de projeção é desnecessária, pois o que está em questão é o aprendizado do Espiritismo e não a persona A ou B que se atribui importante.

Já escutamos a frase: Ah! Fulano sim é um Espírito de escol, é um Espírita Verdadeiro, não é qualquer um não!

Mais um traço do Personalismo.

Estas distinções são danosas ao crescimento espiritual e demonstra que não estamos aprendendo o que pregamos. Se o Evangelho afirma que todos somos iguais perante o Pai. Para que esta distinção? Não há ninguém que seja melhor do que ninguém, a nossa Constituição Federal afirma isto no artigo 5º ( Todos são iguais perante a Lei...), há àqueles que se esforçam mais, porém não podem se atribuir superiores, porque se crescem em um aspecto, precisam ainda vigiar e crescer em outro aspecto, pois assim a evolução espiritual se processa, nos dois aspectos, intelectual e moral.

sábado, 16 de abril de 2011

Fidelidade Doutrinária- Uma Necessidade Urgente


"Uma vez por todas vos digo, meus amigos:
 _ Os vossos trabalhos, os vossos labores não podem ficar no estreito limite da boa vontade e da propaganda, sem os meios elementares indicados pela mais simples razão. Não vem absolutamente ao caso o reportar-vos às palavras de Jesus Cristo quando disse que - a luz não se fez para ser colocada debaixo do alqueire. Não vem ao caso e não tem aplicação, porque não possuís luz própria!

Fazei a luz pelo vosso esforço; iluminai todo o vosso ser com a doce claridade das virtudes, disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael, templo onde se adora a Deus, se venera Cristo e se cultiva a Caridade. Então, sim; distribuí a luz, ela vos pertence! E vos pertece porque é uma produto sagrado do vosso próprio esforço, uma brilhante conquista do vosso Espírto - empenhado nas lutas sublimes da Verdade.

Fora desses termos, podeis produzir trabalhos que causem embriaguez à vista, mas nunca falem sinceramente ao coração. Podeis produzir emoções fortes, por isso que muitos são os que gostosamente se entregam ao culto do maravilhoso.; nunca porém deixarão as impressões suaves da Verdade vibrando as cordas do amor divino  no grande coração humano.

Fora dessa convenção ortodoxa, é possível que as plantas cresçam nos vossos grupos, mas é bem possível que também seus frutos sejam bastante amargos, bastante venenosos, determinando, ao contrário do que devia acontecer, a morte moral do vosso Espírito - a destruição, pela base, do vosso Templo de trabalho!" ... (grifo nosso).

(Allan Kardec- Livro A Prece Segundo o Evangelho).

Os ditos espíritas "inovadores", cheios de idéias novas, em combate aos mais conservadores, procuram deturpar a idéia do que seja a Fidelidade Doutrinária dentro do Movimento Espírita. E o fazem no intuito de confundir e trazer uma proposta "salvadora" para a Doutrina dos Espíritos.

Afirmam que os espíritas que buscam conservar os preceitos das bases Kardequianas, os espíritas ortodoxos, agem desta maneira, devido ao personalismo e com isto não admitem "as idéias novas", os enxertos e os modismos dentro do Movimento Espírita e por conta disto, buscam atacar àqueles que defendem a fidelidade doutrinária. Os Espíritas convictos agem em defesa da fidelidade doutrinária, muito mais no intuito de conservar o Ensinamento dos Espíritos em sua pureza e originalidade. E isto deve ocorrer mesmo, para se evitar que a mensagem dos Espíritos Superiores seja mal interpretada e deixe de executar seu papel fundamental, que é o esclarecimento quanto às verdades espirituais e o consolo ao aflitos.

Alguns movimentos não doutrinários se auto intitulam de Movimento da Maioridade das Idéias Espíritas( ?!?), e buscam através de conceitos deturpados da Doutrina Espírita renovar as Instituições.
E no perguntamos, quando foi que as idéias espíritas estiveram engatinhando ou mesmo em fase infanto juvenil?

Estas fases se desenvolvem a não ser dentro de nós mesmos, que vamos lentamente estudando e compreendendo o que Allan Kardec deixou na Codificação. Ademais, há muita gente que engatinha ainda nos Livro dos Espíritos, Livro do Médiuns, a Gênese e abre o Evangelho como se fosse consultar um oráculo, dizendo: Vamos ver o que cai hoje! Vamos ver o que eu preciso ler! Tudo isto sem estudo, sem método, algo mecânico, feito a esmo.

Afirmam que a Doutrina dos Espíritos está ultrapassada e valendo-se desta afirmação equivocada, propõem um novo tempo, uma nova era dentro do Movimento Espírita, propõem  o movimento de Humanização dos Centros Espíritas, movimento de transformação das casas espíritas, onde todos devam expor seus sentimentos, fazendo uma catarse coletiva, onde todos devam se abraçar e comemorar dentro das Casas Espíritas os encontros fraternos,  transformando as Instituições em palcos de espetáculos, de dança, de shows e de muitos aplausos, além das realizações de almoços e jantares, algumas vezes dançantes.
São deturpações de tudo o que o senhor Allan Kardec nos deixou. E acredito que se ele não se encontra encarnado atualmente, ele deve estar bastante triste no mundo espiritual, vendo sua obra em meio a tanta confusão, misturada a coisas que apetecem e saciam os sentidos físicos, mas não o espírito imortal. São ações para festejar o eu encarnado, esquecendo-se muitas vezes que o desencarnado está alí e pede socorro.

Djalma Montenegro de Farias em sua mensagem psicografada afirmou que o Centro espírita é antes de tudo uma Escola e um Hospital para os enfermos da alma, encarnados e desencarnados. Mas um  palco de diversões é o que temos encontrado em muitas destas Escolas do Espírito.

Onde a idéia do Codificador vai assentar? Se as bases foram deturpadas ou não lidas completamente e não compreendidas? A Codificação é de todos os tempos, necessário se faz seriedade e respeito para encará-la com coragem, para que ela seja o norteador das nossas vidas, das nossas ações e decisões diárias. O Espiritismo é a Doutrina Consoladora que veio direto das mãos do Cristo, quando Ele afirmou: "Não vos deixareis órfãos, mas rogarei a meu Pai que vos envie o Consolador. Àquele que repetirá tudo o que Eu disse e vos revelará coisas novas". Nossa responsabilidade é tamanha. Há muito joio misturado ao trigo em nossa Seara. Deveremos ser cônscios e responsáveis para não permitir que estes tais desvios se instalem em nossas Instituições.

Problemas há em todos os locais, no ambiente familiar, no ambiente profissional, no centro espírita, porque não? Divergências sempre haverão, porque onde há associações de pessoas, os problemas surgirão; porque são ajuntamentos de criaturas diferentes, com níveis intelectual e espiritual diferentes. Mas isto não indica que a Doutrina careça ser modificada. Os seus adeptos sim é que precisam se aprofundar mais no estudo e na prática, para melhor representá-la.

Portanto, a firmeza nos Postulados Espíritas nos traz a certeza de que como Espíritos eternos, aprendizes e devedores uns dos outros, necessitamos e muito aprender os Ensinamentos dos Espíritos em sua base, que nos foram trazidos diretamente das mãos de Jesus, para a nossa evolução. E, não tentar modificar, ajustar ou moldar a Doutrina Espírita à nossa pequena visão material, aos nossos desejos e caprichos.